
Apresentar a figura e a missão do cerimoniário na liturgia da Igreja Católica, destacando sua origem histórica, suas funções durante as celebrações, especialmente junto ao bispo, e sua importância para garantir a ordem, a dignidade e a beleza do culto divino, conforme as orientações dos documentos da Igreja.
Muita confusão se faz com o título cerimoniário entre os servidores do altar. Muitos veem este nome como um simples cargo de honra. Em alguns grupos, um cerimoniário é simplesmente um coroinha mais velho ou mais experiente. Em outros, nem experiente precisa ser. Esta confusão vem principalmente pela falta de conhecimento acerca das instruções litúrgicas sobre o tema ou da vaidade de alguns acólitos.
O cerimoniário é um ofício da Liturgia que exerce o papel de preparo e coordenação da Liturgia, garantindo seu decoro e ordem. É ele quem acerta tudo com os sacerdotes, ministros, acólitos, músicos, leitores, prepara as cerimônias, assiste ao celebrante nas funções e organiza todo o Rito.
Origem Histórica do Cerimoniário
A função do cerimoniário remonta à Antiguidade cristã. Desde os primeiros séculos, nas grandes basílicas e na liturgia episcopal, era necessário haver alguém que coordenasse o desenrolar dos ritos. O Ordo Romanus I (século VII) já menciona o papel de quem cuidava do andamento das ações litúrgicas. No século XV, foi publicado o "Caeremoniale Episcoporum" (Cerimonial dos Bispos), que sistematizou essa função, confiando-lhe a missão de garantir a exatidão e a beleza ritual das celebrações solenes, especialmente presididas por bispos.

Quem é o Cerimoniário?
O cerimoniário é o fiel que, designado pela autoridade competente, tem como função principal coordenar e organizar os ritos litúrgicos, assegurando que todas as ações se desenvolvam de modo digno, ordenado e em conformidade com as normas litúrgicas da Igreja. Ele atua nos bastidores e durante a celebração, orientando ministros, leitores, acólitos, coroinhas e outros envolvidos.
Função do Cerimoniário no Altar
Durante a Missa, especialmente nas celebrações solenes, o cerimoniário:
- Organiza a procissão de entrada e saída
- Orienta os ministros em seus lugares e ações
- Indica os momentos de movimento e silêncio
- Zela pela fidelidade aos ritos e rubricas
- Coordena o uso dos objetos litúrgicos e livros
- Evita improvisos ou abusos litúrgicos
Sua atuação é discreta, mas fundamental: não aparece para ser visto, mas para garantir que tudo corra bem para que o Mistério celebrado brilhe com dignidade.
O Cerimoniário e o Bispo
Nas celebrações presididas pelo bispo diocesano, o papel do cerimoniário se torna ainda mais indispensável. O Cerimonial dos Bispos dedica todo o capítulo 34 à função do cerimoniário episcopal, recomendando:
“Que haja um cerimoniário dotado de prudência, caridade e firmeza, conhecedor da liturgia, capaz de orientar todos com serenidade, e atento a cada passo da celebração.”
(Cerimonial dos Bispos, n. 34)
Ele deve:
- Conhecer em profundidade o rito e o calendário litúrgico
- Preparar a celebração com antecedência e diálogo com os responsáveis
- Orientar os concelebrantes, acólitos, leitores e demais ministros
- Ajudar o bispo nos gestos, orações e deslocamentos
- Supervisionar o uso correto das vestes, cores, objetos e lugares litúrgicos
Importância do Cerimoniário
A presença de um cerimoniário bem preparado contribui para:
- A unidade e harmonia da celebração
- O respeito aos sinais litúrgicos e à tradição da Igreja
- A vivência profunda do Mistério pascal por toda a assembleia
- Evitar improvisações, atrasos ou contradições rituais
- Formar outros ministros com espírito litúrgico e pastoral
Por isso, o cerimoniário deve ser alguém formado, orante, discreto e profundamente apaixonado pela liturgia, exercendo sua missão com espírito de serviço.
O que deve ser feito
Segundo o Cerimonial dos Bispos, em seu número 34: O cerimoniário deve ser perfeito conhecedor da sagrada liturgia, sua história e natureza, suas leis e preceitos. Mas deve ao mesmo tempo ser versado em matéria pastoral, para saber como devem ser organizadas as celebrações, quer no sentido de fomentar a participação frutuosa do povo, quer no de promover o decoro das mesmas; Procure que se observem as leis das celebrações sagradas, de acordo com o seu verdadeiro espírito, bem como as legítimas tradições da Igreja particular que forem de utilidade pastoral e; Deve, em tempo oportuno, combinar com os cantores, assistentes, ministros celebrantes tudo o que cada um tem a fazer e a dizer. Porém, dentro da própria celebração, deve agir com suma discrição, não fale sem necessidade; não ocupe o lugar dos diáconos ou dos assistentes, pondo-se ao lado do celebrante; tudo, numa palavra, execute com piedade, paciência e diligência.
Segundo o Cerimonial dos Bispos, em seu número 34:
O cerimoniário deve ser perfeito conhecedor da sagrada liturgia, sua história e natureza, suas leis e preceitos. Mas deve ao mesmo tempo ser versado em matéria pastoral, para saber como devem ser organizadas as celebrações, quer no sentido de fomentar a participação frutuosa do povo, quer no de promover o decoro das mesmas.
Procure que se observem as leis das celebrações sagradas, de acordo com o seu verdadeiro espírito, bem como as legítimas tradições da Igreja particular que forem de utilidade pastoral.
Deve, em tempo oportuno, combinar com os cantores, assistentes, ministros celebrantes tudo o que cada um tem a fazer e a dizer. Porém, dentro da própria celebração, deve agir com suma discrição, não fale sem necessidade; não ocupe o lugar dos diáconos ou dos assistentes, pondo-se ao lado do celebrante; tudo, numa palavra, execute com piedade, paciência e diligência.
O cerimoniário não é simplesmente “um acólito mais velho” ou “mais experiente”
Apesar de em raras exceções poder desempenhar algum ofício de acólito, como incensar o celebrante na falta de diácono, o cerimoniário não exerce o papel de acólito na Missa. Um cerimoniário, portanto, não faz o ofício de turiferário, naveteiro, librífero, sino, ceroferário, etc. Seu trabalho na Missa é absolutamente diverso, como veremos a seguir.
É claro que a pessoa que serve como cerimoniário pode, em outras Missas, servir como simples acólito. No entanto, numa celebração ou se serve como cerimoniário, ou se serve como acólito.
O cerimoniário deve ser homem.
No comunicado da Congregação para o Culto Divino de 15/03/1994, libera-se o serviço de meninas e mulheres ao altar. No entanto, nada se fala a respeito do serviço como cerimoniário, nem neste comunicado nem em um posterior. De fato, a função do cerimoniário é profundamente clerical, sendo exercida normalmente por ministros ordenados como acólitos instituídos, diáconos e sacerdotes, e não convém que seja adotada por uma mulher. A Lei Litúrgica nesse sentido é ambígua, mas convém recorrer à Tradição e ao bom senso para reservar esta função para homens. Nas exceções, cabe ao bispo dar a palavra final sobre o tema.
A maioria das paróquias não precisa de um cerimoniário
Excetuando paróquias muito grandes e catedrais, com alta complexidade em sua vida litúrgica, o cerimoniário não é necessário na maioria das paróquias, pois a simplicidade da Forma Ordinária do Rito Romano nestas igrejas dispensa este ofício. Em muitos lugares há o cerimoniário “café-com-leite”, que fica simplesmente em pé ao lado do celebrante sem nada fazer, nem antes nem durante a Santa Missa. Infelizmente deve ser dito, isto normalmente é pura vaidade.
Poucos tem o conhecimento necessário para serem cerimoniários
O Cerimonial dos Bispos usa uma palavra muito forte para descrever o conhecimento necessário para um cerimoniário: “Perfeito conhecedor da Liturgia, sua história e natureza, suas leis e preceitos”. Isto, claramente, não é algo fácil de se possuir. Muitos querem ser cerimoniários, pois o título e a batina preta são realmente encantadores, mas esta postura normalmente é pura vaidade, e devemos ter muito cuidado com este desejo.
O que faz o cerimoniário?
Enquanto o servidor do altar executa, o cerimoniário planeja e zela para que saia tudo como deve ser, e a liturgia seja realmente o mais bem feita possível, para a maior Glória de Deus e a salvação das almas. Antes da celebração, ele acerta os detalhes com todos os membros que atuam na liturgia: Acólitos, Ministros, Cantores ou Coristas, Comentarista, Leitores, Diáconos, Sacerdote(s), Bispo(s) e mantém, durante a celebração, um estado de permanente vigilância para que tudo saia como o planejado e o correto. Poderíamos resumir o trabalho do cerimoniário a três P’s: Preparar, Prever e Precaver.
Podemos comparar o cerimoniário a um maestro de uma orquestra. Não é ele quem executa a peça, mas é por meio de seu cuidado que a obra sai de uma maneira perfeita. Sem o auxílio de um maestro, uma orquestra pode facilmente se perder. Do mesmo modo, sem a presença de um cerimoniário, uma liturgia complexa pode ter muitas falhas.
Segundo consta no Cerimonial dos Bispos:
O mestre de cerimônias apresenta-se revestido de alva ou veste talar e sobrepeliz. No caso de estar investido na ordem de diácono, pode, dentro da celebração, vestir a dalmática e as restantes vestes próprias da sua ordem.
O costume é batina preta e sobrepeliz. Em muitos lugares, porém, imitando as celebrações pontifícias, os cerimoniários tem começado a usar a batina violácea. Isto não é correto, exceto para cerimoniários pontifícios e monsenhores que exerçam o ofício de cerimoniários – já que a cor da batina muda de acordo com o grau do ministro que a veste, e monsenhores usam batina violácea.
📚 Bibliografia e Referências
- Caeremoniale Episcoporum (Cerimonial dos Bispos), ed. típica 1984
- Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), ed. típica 2011
- Redemptionis Sacramentum, Congregação para o Culto Divino (2004)
- Sacrosanctum Concilium, Constituição sobre a Sagrada Liturgia (1963), n. 28
- Catecismo da Igreja Católica, nn. 1145–1186
- CNBB – Diretório da Liturgia e Subsídios para Celebrações Episcopais