Esta página tem como objetivo apresentar o significado, a importância e a fundamentação teológica e litúrgica do uso do incenso na Missa, promovendo uma compreensão mais profunda dos fiéis sobre este elemento simbólico e orientando agentes da pastoral litúrgica e celebrantes na sua adequada utilização conforme os documentos oficiais da Igreja.

USO DO INCENSO NA MISSA


         

          O incenso é um elemento litúrgico de grande significado na celebração da Missa, simbolizando a oração dos fiéis que sobe a Deus, além de manifestar respeito e reverência ao mistério sagrado que está sendo celebrado. Sua utilização está profundamente enraizada na tradição da Igreja, com fundamentos claros em documentos oficiais que orientam sua aplicação.


         Desde o século IV, a Igreja Católica, costumeiramente, aos domingos e nas grandes solenidades (Instrução Geral do Missal Romano, 119), utiliza o incenso na Santa Missa e noutras celebrações especiais.


Significado e Simbolismo

         

          Na Liturgia, o incenso (resina aromática que é queimada em brasas) representa as preces do povo de Deus, como símbolo da oração da Igreja (Ap 5,8 e 8,3-5) que sobe à presença de Deus: “Suba minha oração como incenso na tua presença; elevando-se em forma de fumaça ao céu, conforme o Salmo 141:2 — "Suba a minha oração como incenso diante de ti." O uso do incenso também destaca a solenidade e a sacralidade do rito, enfatizando o respeito à presença real de Cristo na Eucaristia, às Escrituras Sagradas, ao altar, ao sacerdote e aos fiéis reunidos. O perfume nele acrescenta um elemento jubiloso, alegre, de satisfação e de beleza” (S. Rosso, Dicionário de Liturgia, p. 340).



Fundamentação nos Documentos da Igreja


          O Sacrossanctum Concilium (Constituição sobre a Liturgia Sagrada do Concílio Vaticano II) destaca a importância dos sinais sensíveis na celebração litúrgica, que incluem o uso do incenso, como forma de envolver todos os sentidos dos fiéis e elevar o espírito à contemplação divina (SC, 34). No Ritual Romano e na Instrução General do Missal Romano (IGMR), o uso do incenso é regulado e recomendado em momentos específicos da Missa, como a incensação do altar, do livro das Escrituras, das oferendas, do celebrante e da assembleia, reforçando assim o sentido de adoração e solenidade (IGMR, 276-279). Já o Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia (CDW, 2002) também ressalta que o incenso ajuda a manifestar o mistério sagrado e a presença de Deus, promovendo uma experiência litúrgica mais profunda e espiritual.


Aplicação Prática na Celebração


         Durante a Missa, o uso do incenso ocorre em momentos-chave, como:

a)  Ritos Iniciais: Na entrada solene à frente da Cruz processional e para a incensação do Altar e da Cruz;

b) Rito da Palavra: À frente na procissão do Evangelho e na proclamação do mesmo;

c)  Rito Sacramental: Na incensação das Oferendas e do Altar e da Cruz, na incensação da Igreja(Celebrante e Povo), e na Consagração;



A manipulação correta do incenso é responsabilidade do acólito ou do ministro designado, seguindo as normas litúrgicas para manter o respeito e o sentido do rito.




Incensação no Início da Celebração – Ritos Iniciais

     

         Quando se usa o incenso na Missa, especialmente nas celebrações mais solenes (domingos, festas, solenidades), ele pode ser empregado logo após a entrada do sacerdote e seus ministros.


Passos da Incensação:

         

         Na Procissão de Entrada: O turíbulo (com o incenso já fumegando) pode ser levado à frente da cruz processional. O naveteiro acompanha com o incenso.


Chegada ao Presbitério:


         Após a saudação ao altar, o sacerdote e os diáconos (se houver) se inclinam profundamente diante do altar. O sacerdote coloca incenso no turíbulo (ajudado pelo naveteiro) e incensa o altar.


Incensação: Se a cruz está sobre o alta

       

        Ela é incensada antes ou junto com o altar.


Ductos e Ictos

ELEMENTO DUCTOS ICTOS POR DUCTOS TOTAL DE ICTOS
Cruz duplos 2 ictos por ducto 6 ictos

Incensação: Se a cruz está próxima, mas separada

 

    O sacerdote incensa a cruz antes do altar.


Incensação do Altar


         O sacerdote caminha ao redor do altar (se possível) incensando-o com reverência.


         Forma da incensação do altar: De acordo com o Cerimonial dos Bispos, n. 91:

PARTE DO ALTAR DUCTOS ICTOS POR DUCTOS
Frente do altar 3 1 a 2 ictos
Lado direito 2 1 a 2 ictos
Lado esquerdo 2 1 a 2 ictos
Parte de trás (se acessível) 3 1 a 2 ictos

Se não for possível dar a volta completa no altar (ex: altar encostado à parede), o sacerdote incensa com os ductos voltados para as três direções: centro, lado esquerdo, lado direito.

Resumo Geral – Ritos Iniciais

 

ELEMENTO DUCTOS TIPOS DE ICTO TOTAL DE ICTOS
Cruz 3 duplos 2 por ducto 6 ictos
Altar 7 a 10 simples ou duplo 1 a 2 por ducto 7 a 20 ictos

Observações:



          A incensação não substitui a saudação e o sinal da cruz — esses vêm depois da incensação.


          A cruz não é incensada novamente se já foi incensada nos ritos iniciais.


          O turiferário se posiciona com dignidade e se retira ao final da incensação.



Incensação na Liturgia da Palavra

Incensação do Evangelho


         A incensação só ocorre no momento do Evangelho, não há incensação para a 1ª ou 2ª leitura, nem para o salmo. A incensação do livro dos Evangelhos é um gesto de veneração à Palavra de Cristo.


Passos da Incensação do Evangelho:

         

  •  Durante o Aleluia (ou canto equivalente): O diácono (ou o sacerdote, se não houver diácono) se aproxima do celebrante e pede a bênção para proclamar o Evangelho. O celebrante abençoa o diácono com o sinal da cruz.
  • Nesse momento, o turiferário (quem carrega o turíbulo) e o naveteiro (com o incenso) aproximam-se.
  • O celebrante coloca o incenso no turíbulo, dizendo a fórmula: “Seja o Senhor em teu coração e em teus lábios...” (ou bênção semelhante).
  • Procissão até o ambão: O diácono ou o sacerdote vai em procissão ao ambão, precedido do turíbulo (fumegando) e do naveteiro.
  • O evangeliário pode ser carregado solenemente (caso tenha sido entronizado no início).
  • Ao chegar ao ambão: O diácono abre o livro e, antes de proclamar o Evangelho, incensa o livro.


Como é feita a incensação do Evangelho:


        O diácono (ou sacerdote) faz três ductos duplos com o turíbulo:

     

POSIÇÃO DUCTOS ICTOS
Centro 1° ducto 2 ictos (para frente e para trás)
Lado esquerdo 2° ducto 2 ictos
Lado direito 3° ducto 2 ictos

       Ou seja, no total: 3 ductos duplos = 6 ictos


Observações Importantes:


          O incenso é uma veneração ao Cristo presente na Palavra proclamada. Essa incensação é feita apenas no Evangelho, não nas outras leituras. O gesto deve ser solene, reverente, sem pressa.


          O turiferário se afasta após a incensação.


Caso o celebrante seja um bispo:


          O evangelho é lido por um diácono, e o bispo pode incensar pessoalmente o Evangeliário, após beijá-lo (Cerimonial dos Bispos, n. 140).

INCENSO NA LITURGIA EUCARÍSTICA

Passos da Incensação no Rito das Oferendas


         A incensação ocorre após a apresentação do pão e do vinho sobre o altar, antes da oração sobre as oferendas.


1. Incensação das Oferendas sobre o altar


          Após colocar o pão e o vinho no altar, o sacerdote:


  • Coloca incenso no turíbulo, assistido pelo naveteiro.


  • Incensa as oferendas (pão e vinho já dispostos sobre o altar).


Ductos e Ictos:

 

ELEMENTO DUCTOS TIPO DE ICTOS
Oferendas 3 ductos duplos 2 ictos por ducto

Os ductos são normalmente feitos: Ao centro, lado esquerdo e lado direito


2. Incensação do Altar e da Cruz


         Após incensar as oferendas, o sacerdote incensa o altar e a cruz (se não foi incensado no início ou se a solenidade justifica repetir). Forma de incensação do altar: Conforme a IGMR 277:



PARTE DO ALTAR DUCTOS ICTOS POR DUCTO
Frente 3 ductos simples ou duplos 1 ou 2 ictos por ducto
Lado Esquerdo 2 ductos simples 1 icto por ducto
Lado direito 2 ductos simples 1 icto por ducto

Se houver espaço atrás do altar, ele também pode ser incensado.



3. Incensação do Celebrante


          Após o altar, o sacerdote é incensado:

           

ELEMENTO DUCTOS ICTOS POR DUCTO
Celebrante 3 ductos simples 1 ictos por ducto

Um ducto ao centro, um à esquerda, um à direita (na direção do sacerdote).



4. Incensação dos Concelebrantes e Assembleia


         Concelebrantes (se houver): 2 ductos simples para cada um.


         Assembleia dos fiéis: O turiferário se dirige ao centro do presbitério, se volta para o povo, e faz:


 

ELEMENTO DUCTOS ICTOS POR DUCTO
Assembleia 3 ductos simples 1 ictos por ducto

Um ducto ao centro, um à esquerda, um à direita — todos voltados para o povo.


RESUMO GERAL – RITO DAS OFERENDAS

                   

ELEMENTO DUCTOS TIPOS DE ICTOS TOTAL DE ICTOS
Oferendas (pão e vinho) 3 duplos 2 por ducto 6 ictos
Altar e Cruz 7 simples 1 por ducto 7ictos
Celebrante 3 simples 1 por ducto 3 ictos
Concelebrantes (cada) 2 simples 1 por ducto 2 ictos
Assembleia 3 simples 1 por ducto 3 ictos

Durante a exposição do Santíssimo Sacramento no ostensório


Passos Litúrgicos da Incensação do Santíssimo


1. Durante a Exposição do Santíssimo Sacramento:


  • Após colocar o ostensório com o Santíssimo sobre o altar, o ministro ordenado (sacerdote ou diácono): Ajoelha-se diante do altar.


  • O turiferário se aproxima com o turíbulo fumegando e a naveta com incenso.


  • O sacerdote impõe incenso dizendo silenciosamente uma oração (opcional).


  • Em seguida, ele faz a incensação solene do Santíssimo Sacramento:


ELEMENTO DUCTOS ICTOS POR DUCTO
Santíssimo Sacramento 3 ductos duplos 2 ictos por ducto

Total: 3 ductos duplos = 6 ictos


          Os ductos devem ser feitos de maneira solene e centrada no ostensório, com gestos lentos e profundos. Normalmente, os ductos são feitos: Um ao centro, um levemente à esquerda e um levemente à direita.


2. Antes da Bênção com o Santíssimo:


  • Após o canto de adoração (como o “Tão Sublime Sacramento”) e o momento de silêncio: O sacerdote (ou diácono), revestido com véu umeral, aproxima-se do altar.


  • Antes de dar a bênção, o Santíssimo é incensado novamente com os mesmos movimentos: 3 ductos duplos = 6 ictos


Significado Litúrgico:


       A incensação do Santíssimo é o gesto máximo de adoração, reconhecendo a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. A fumaça do incenso simboliza a oração da Igreja que sobe a Deus, e também o mistério da fé que nos convida à reverência diante do invisível.


Resumo:

MOMENTO DUCTOS ICTOS POR DUCTO TOTAL DE ICTOS
Exposição do Santíssimo 3 2 6
Bênção com o Santíssimo 3 2 6

Obs.: Em algumas tradições locais, é comum repetir os mesmos movimentos nas duas incensações


Bibliografia

  • CONCÍLIO VATICANO II. Constituição sobre a Liturgia Sagrada Sacrosanctum Concilium. 1963.
  • IGREJA CATÓLICA. Instrução Geral do Missal Romano. 2002.
  • CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia. 2002.
  • JOÃO PAULO II. Redemptionis Sacramentum. 2004.
  • CIC – Catecismo da Igreja Católica, §§ 1154-1156.